Agora, vamos nos referir concretamente ao que aconteceu em 20 de janeiro de 1942.

Numa conferência que o Padre Kentenich deu na África do Sul, por ocasião da visita às Irmãs àquele lugar, ele próprio conta sobre o que aconteceu, como ele viveu, o que sentiu e como ele interpretou.

“Vocês não podem imaginar quão intensamente a responsabilidade da família estava em mim, em Koblenz. A minha luta pela liberdade deve ajudá-la a conseguir uma perfeita liberdade interior e sua luta por essa liberdade deve me ajudar a conquistar minha liberdade externa.

O padre Kentenich cita aqui duas orações do livro Rumo ao Céu, que foi escrito por ele em Dachau.

“As duas orações, “Fique seca minha mão direita” e “Olha, Pai, a nossa grei“, me mostram essa consciência profunda. Vivi pensando: tudo o que faço tem repercussões para o bem ou a dor da família: afetam seu ser e sua vida, aumentam a aflição ou aumentam a felicidade (…). Não estamos sozinhos. Estamos entrelaçados em uma comunidade. Pense em uma colina de maçãs. Lá tudo depende de cada um; Se alguém é ruim, pode infectar todos os outros. A consciência de uma responsabilidade para o outro é um presente extraordinariamente grande. É o símbolo de todo o tempo de Dachau. Nosso ser mútuo e profundo um no outro só pode ser entendido à luz daquela séria responsabilidade que tivemos um para o outro, durante todo esse momento difícil.”

O padre Kentenich agora explica o que aconteceu exatamente em 20 de janeiro de 1942. Como ele viveu. Não se resume ao fato de que ele não assinou um atestado médico. Atrás disso, havia muito.

“O entrelaçamento de destinos é a realidade do sobrenatural. Esta verdade era para mim, desde o início da prisão, algo completamente evidente. Eu tinha a mesma atitude em 18 de outubro de 1941, no bunker. Depois da minha decisão de sofrer pela Família, não havia visão senão apenas levar a sério a realidade do entrelaçamento mútuo dos destinos. No Natal, encontrei uma fórmula na expressão: “O Milagre da Boa Noite”.

Vivi da convicção de que vocês poderiam conquistar para mim a liberdade externa e uma boa parte da liberdade interior para a luta pela própria liberdade interior de vocês. O processo para chegar a esta decisão não foi fácil para mim, porque ir a Dachau e separar-se da Família significava encontrar morte certa e separar-me de toda a Família. Significava uma separação, uma separação para sempre.

Com isso, vocês também podem entender o que seguiu após 20 de janeiro de 1942. Esta data representa um certo ponto culminante do entrelaçamento de destinos. A oferta foi feita para que eu pudesse me declarar doente após passar por exames. Este era um meio para o qual não havia nenhum escrúpulo do ponto de vista moral e que, eventualmente, poderia significar deixar para trás a ida a Dachau. Mas eu não queria aceitá-lo porque queria ser livre somente através da luta pela liberdade de toda a Família. E, além disso, não estava certo de que, apesar de tudo, não fosse enviado para Dachau. Mas, em tais situações, o homem se apega a um pedaço de palha e, portanto, essa oferta significou um grande risco.”

O Padre Kentenich diz que, em 20 de janeiro, ele vislumbra uma concentração dos fundamentos deste marco. Devemos entrar neste marco também sempre tendo a perspectiva de que isso deve ser repetido agora.

Esta é uma história que temos de reviver agora. Certamente, não estamos nem em Koblenz, nem em Dachau, mas em nossa situação atual, com o que vivemos, temos que reviver.

Também é muito importante que nos coloquemos na situação difícil que foi para o Pe. Kentenich. Não era simplesmente uma questão de assinar um documento, como ele diz, no qual se declarava incapaz de ir ao campo de concentração. Isso significava praticamente que ele iria para Dachau, porque ele já havia sido declarado apto a ir para o campo. Mas, por um lado, significava a morte, e, por outro lado, deixando a Família, os filhos, a base, o trabalho deles. Schoenstatt ainda não estava pronto – estava em um processo de desenvolvimento que precisava de maturação. O Pe. Kentenich teve dificuldade em dar esse passo, foi realmente muito difícil. Vamos continuar ouvindo.

“Quão difícil foi a decisão para mim! Da janela da torre, os suplicantes olhares e de todas as partes os pedidos que me chegaram por escrito para que eu desse o passo para ir ao médico. Sim, foi uma luta difícil. Quão humanamente eu senti tudo isso! E então a convicção ficou viva em mim: não, isso não posso fazer. Foi um salto mortal para mim e, com isso, um salto mortal, em certo sentido, para a própria Família. Eu estava indo de um lugar para outro na cela e eu sabia: não deveria fazê-lo. Um ato simples e, no entanto, tudo dependia dele. Deixei passar o prazo determinado para a decisão e, com isso, a decisão foi tomada.”

O Padre Kentenich diz que, além disso, neste contexto, formamos uma família concreta, um corpo místico. Devemos ter isso em mente para entender tudo o que estava acontecendo e viver o Padre Kentenich. Estamos unidos em Cristo, formamos uma unidade, um Corpo com Cristo e é por isso que estamos unidos em Cristo, no Senhor. Não apenas humanamente, mas em Cristo. Deus, o Pai, tem um plano de amor para nós.

Eu queria conquistar a verdadeira liberdade para vocês. Levar a sério tudo isso, por parte da Família, deveria significar o resgate da minha liberdade. Entrelaçamento de destinos! Através dessa maneira de agir, isto é, pelo fato de que agora renunciei a meios humanos, atacávamos o diabo, mas também o derrotamos. Minha pessoa está no meio do campo de batalha de dois poderes escondidos: o diabo e Deus.”

O Pai Fundador alude ao fato de que aqui estamos em uma luta, em uma conquista pela verdadeira liberdade, pela liberdade dos filhos de Deus. Uma liberdade perfeita no sentido de que renunciamos a tudo o que nos impede, nos desliga, nos obscurece a dizer sim a Deus.

“Todos vocês experimentaram esse entrelaçamento de destinos, mas isso deve ser feito ainda mais intensamente no futuro. Uma vez que assumimos essa corrente de vida, as orações de Dachau tornam-se uma expressão de nosso próprio sentimento e pensamento. Vocês percebem o poder que envolvem os emaranhados (…)? Esta realidade exige uma rendição total à Família e, através dela, a Deus Pai.”

O Padre Kentenich nos convoca para reviver, para revivenciar essa história, no dia 20 de janeiro. Não estamos na situação de Dachau, mas sabemos o quanto há de Dachau no nosso mundo atual. E se pensarmos na mensagem central de 20 de janeiro, a solidariedade dos destinos, dos corações, da missão, percebemos a grande desintegração que atualmente existe. Vemos em toda parte essa dissolução ou destruição do corpo de vinculações.

O 20 de Janeiro trás um outro mundo. Se o vivemos entre nós, vinculados ao Pai Fundador, Ele estará feliz. Pois o que ele viveu, é algo atual: se vive hoje.

(Imagem:  Padre Kentenich no campo de concentração de Dachau, segundo da direita para a esquerda. Texto baseado no curso “Segundo Marco: 20 de Janeiro” do Pe. Rafael Fernández)

Sobre o Autor

Líder de Ramo do Jumas Santa Maria (RS) e estudante de Engenharia de Computação na UFSM.