“Mesmo que toque só na sua capa, ficarei curada!” (Mc 5, 28). Assim acreditava uma mulher que sofria de uma doença crônica que lhe causava hemorragias havia doze anos, como é narrado no Evangelho de Marcos 5,25-34. Ela queria apenas um toque. Hoje uma graça muito maior nos é concedida: podemos receber em nossas mãos o nosso Deus! Ali no pão e vinho transfigurados está presente o Cristo em sua totalidade. O Deus que outrora se fez homem para viver junto daqueles que sempre amou, mais uma vez se faz presente entre nós.

Ali, em nossas mãos…

Na quinta feira da Semana Santa celebramos a instituição da Eucaristia. Porém a liturgia desse dia também comemora o novo mandamento de Cristo (“…vos dou um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei” – Jo 13, 34), o lava-pés, a instituição do sacerdócio e a agonia no horto das oliveiras. Por essa razão a festa do Corpo de Cristo (Corpus Christi) foi instituida, criando uma festa que desse atenção somente à Santíssima Eucaristia2. Isso se deu em 1264 por decreto do papa Urbano IV após o recebimento das relíquias do milagre Eucarístico de Bolsena: nas mãos de um incrédulo sacerdote a Hóstia branca transformouse em carne viva, respingando sangue3. Embora nossos olhos humanos não possam ver, o mesmo acontece sempre que se consagra o pão e o vinho: estes se tornam o corpo e o sangue do nosso Senhor. Mas nossos olhos da fé o veêm! Veêm?

“Jesus, como sinal da sua presença, escolheu pão e vinho. Com cada um dos dois sinais doa-se totalmente, e não só uma parte de si. O Ressuscitado não está dividido. Ele é uma pessoa que, mediante os sinais, se aproxima de nós e se une a nós. Mas os sinais representam, a seu modo, cada aspecto particular do Seu mistério e, com o seu típico manifestar-se, querem falar-nos, para que aprendamos a compreender um pouco mais o mistério de Jesus Cristo.” 4 O pão é fruto da terra e do trabalho humano. Sem nossos esforços e nosso trabalho diário não teríamos nosso alimento. Mas o pão também é fruto da terra: o trigo que plantamos só nasce devido à fertilidade do solo. Ambos aspectos são graça de Deus. Nada sem nós, nada sem Vós!! “Enquanto o pão nos remete para a quotidianidade, para a simplicidade e para a peregrinação, o vinho expressa o requinte da criação: a festa da alegria que Deus nos quer oferecer no fim dos tempos e que já antecipa agora uma vez mais como um indício mediante este sinal. Mas o vinho também fala da Paixão: a videira deve ser podada repetidamente para assim ser purificada; as uvas devem amadurecer sob o sol e sob a chuva e deve ser esmagada: só através desta paixão amadurece um vinho precioso.”

“Mas ainda não explicamos profundamente a mensagem deste sinal do pão. O Senhor mencionou o seu mistério mais profundo no Domingo de Ramos, quando lhe foi feito o pedido da parte de alguns para se encontrarem com Ele. Na sua resposta a esta pergunta encontra-se a frase: ‘Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto’ (Jo 12, 24). No pão feito de grãos moídos está encerrado o mistério da Paixão. A farinha, o grão moído, pressupõe morrer e ressuscitar do grão. Ao ser moído e cozido ele tem em si mais uma vez o mesmo mistério da Paixão. Só através do morrer consegue ressuscitar, dá o fruto e a vida nova. (…) O que no grão está escondido como sinal da esperança da criação isto aconteceu realmente em Cristo. Através do seu sofrer e morrer livremente, Ele tornou-se pão para todos nós, e com isto esperança viva e fidedigna: Ele acompanha-nos em todos os nossos sofrimentos até à morte. Os caminhos que Ele percorre conosco e através dos quais nos conduz à vida são caminhos de esperança.” 6 Nas palavras de nosso Pai-fundador: “Sem lagar não há vinho, o trigo deve ser triturado; sem túmulo não há vitória, só ao morrer ganha-se a batalha” (RC 150)

O mistério Eucarístico presente na última ceia é uma antecipação do mistério Pascal que Jesus ia viver nos próximos três dias. E de fato, o sacrifício oferecido e vivido por Jesus em sua paixão e morte já estão contidos ali na Eucaristia. Pois as palavras ditas por Ele ao instituir esse sacramento (“Tomai: isto é o meu corpo” e também “Isto é o meu sangue da aliança, que vai ser derramado por todos” – Mc 14, 22-24) “não são simplesmente palavras. O que Jesus diz é acontecimento, o acontecimento central da história do mundo e da nossa vida pessoal.” 7 Com efeito, toda vez que o sacerdote consagra o pão e o vinho, o sacrifício pascal de Cristo acontece sobre o altar. Mas Cristo não está se oferecendo de novo. O ato da consagração de hoje é aquele mesmo ato de entrega ocorrido há 2000 anos! Aquele acontecimento de séculos atrás e o de hoje são “contemporâneos”. 8 Ao celebrarmos a Eucarístia estamos vivendo juntamente com Cristo aqueles dias de extrema dor e supremo amor!!

Por isso toda vez que recebermos o corpo e sangue do nosso Senhor olhemos pra Ele com toda nossa fé (oxalá fosse a mesma fé daquela mulher doente havia 12 anos). Que possamos dar um imenso valor àquela pequena Ele. Na sua resposta a esta pergunta encontra-se a frase: ‘Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto’ (Jo 12, 24). No pão feito de grãos moídos está encerrado o mistério da Paixão. A farinha, o grão moído, pressupõe morrer e ressuscitar do grão. Ao ser moído e cozido ele tem em si mais uma vez o mesmo mistério da Paixão. Só através do morrer consegue ressuscitar, dá o fruto e a vida nova. (…) O que no grão está escondido como sinal da esperança da criação isto aconteceu realmente em Cristo. Através do seu sofrer e morrer livremente, Ele tornou-se pão para todos nós, e com isto esperança viva e fidedigna: Ele acompanha-nos em todos os nossos sofrimentos até à morte. Os caminhos que Ele percorre conosco e através dos quais nos conduz à vida são caminhos de esperança.” 6 Nas palavras de nosso Pai-fundador: “Sem lagar não há vinho, o trigo deve ser triturado; sem túmulo não há vitória, só ao morrer ganha-se a batalha” (RC 150)

O mistério Eucarístico presente na última ceia é uma antecipação do mistério Pascal que Jesus ia viver nos próximos três dias. E de fato, o sacrifício oferecido e vivido por Jesus em sua paixão e morte já estão contidos ali na Eucaristia. Pois as palavras ditas por Ele ao instituir esse sacramento (“Tomai: isto é o meu corpo” e também “Isto é o meu sangue da aliança, que vai ser derramado por todos” – Mc 14, 22-24) “não são simplesmente palavras. O que Jesus diz é acontecimento, o acontecimento central da história do mundo e da nossa vida pessoal.” 7 Com efeito, toda vez que o sacerdote consagra o pão e o vinho, o sacrifício pascal de Cristo acontece sobre o altar. Mas Cristo não está se oferecendo de novo. O ato da consagração de hoje é aquele mesmo ato de entrega ocorrido há 2000 anos! Aquele acontecimento de séculos atrás e o de hoje são “contemporâneos”. 8 Ao celebrarmos a Eucarístia estamos vivendo juntamente com Cristo aqueles dias de extrema dor e supremo amor!! Por isso toda vez que recebermos o corpo e sangue do nosso Senhor olhemos pra Ele com toda nossa fé (oxalá fosse a mesma fé daquela mulher doente havia 12 anos). Que possamos dar um imenso valor àquela pequena partícula, e acolher com profundo respeito e alegria o maior dom que nosso Deus nos dá: a própria vida d’Ele, que se converterá em vida plena para nós.

David Carlo Almeida Barbato.

(Agradeço ao Bruno Mamede pela revisão do texto e sugestões)

1. Homilia do Papa Bento XVI na solenidade de Corpus Christi de 2006. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi –
/homilies/2006/documents/hf_ben-xvi_hom_20060615_corpus-christi_po.html
2. fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Corpus_Christi_(feast) (acessada em 24.V.2010 às 20h25)
3. fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Corpus_Christi (acessada em 24.V.2010 às 20h25). Cf também http://www.passos-cl.com.br –
/link.asp?cod=23&tipo=0 (acessado em 24.V.2010 às 23h11)
4. Homilia do Papa Bento XVI na solenidade de Corpus Christi de 2006. (ver a nota número 1)
5. Idem.
6. Ibidem.
7. Ibidem.
8. Ecclesia de Eucharistia, parágrafo 5. João Paulo II. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/docu –
ments/hf_jp-ii_enc_17042003_ecclesia-de-eucharistia_po.html